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CASO ISABELLA

Albergaria: “Caso Isabella virou novela doentia” – Terra – Mídia

Três e tão-somente três links absolutamente lúcidos que destoam da paranóia da mídia corporativa seriam suficientes para dissecar um dos piores hypes mórbidos da história do jornalismo brasileiro.

Primeiro, a entrevista conduzida pelo repórter CLAUDIO LEAL do TERRA MAGAZINE com o antropólogo ROBERTO ALBERGARIA, doutor pela Université de Paris VIII e professor da UFBA.

Segundo: dois posts excelentes do sociólogo CRISTÓVÃO FEIL no DIÁRIO GAUCHE: um, dando uma breve pincelada sobre a SOCIEDADE DO ESPETÁCULO, de GUY DEBORD, que elucida as práticas midiáticas da contemporaneidade com primor.

O outro, também falando sobre o CASO ISABELLA.

Terceiro: o melhor de todos, do RODRIGO CARDIA no CÃO UIVADOR, em uma feliz apropriação do filme O QUARTO PODER de COSTA-GAVRAS e do conceito de FATO-ÔNIBUS de PIERRE BOURDIEU, do seu livro SOBRE A TELEVISÃO.
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Só pra não dizer que eu não falei nada, copio abaixo tanto o texto relativamente curto para meus padrões que escrevi em um tópico da comunidade BUTEQUEIROS DE PORTO ALEGRE no ORKUT. Por favor, acompanhem a conversação do tópico:

O que eu acho pode parecer frio, mas é tão-somente uma questão de relevância: o que é verdadeiramente interessante e relevante? E para quem?!

Há uma distorção nojenta de valores no jornalismo. O que deveria ser meramente um FATO (o que aconteceu, com quem, quando, aonde, por que e com que efeito) não deveria, sob hipótese alguma, ser o centro das atenções e ser misturado com OPINIÃO.

OPINIÃO e FATO deveriam ser coisas diferentes, tratadas cada uma a seu tempo.

Opinião envolve achismos generalistas e contribuições de especialistas. No caso da mídia corporativa brasileira (RBS, GLOBO, RECORD, BAND, SBT, ABRIL, FOLHA, ESTADO e suas milhares de afiliadas espalhadas por todo o país cujos proprietários e associados são nada mais nada menos do que 1 a cada 6 parlamentares em Brasília), estes, via de regra, possuem sempre a mesma origem econômica, social, étnica e religiosa que reflete apenas UM LADO da questão. Quando posições divergentes dos interesses da agenda (isto é, daquilo que a mídia define se vai ser notícia ou não, quando e associada a mais o que) são confrontadas, a edição (cortes do material bruto da entrevista para algo que caiba no tempo definido para a duração do programa) sempre dá menos tempo ou descontextualiza a fala do lado que não contempla os interesses dos patrocinadores da mídia.

A velocidade e a importância dos achismos não podem JAMAIS superar ou influenciar o trabalho policial, médico e jurídico. Infelizmente, os maus jornalistas (que não são maioria, embora os bons quase não questionem essa prática por pura covardia) gostam de brincar de Deus e o senso comum (visão laica, não-especializada) adora especular e fofocar.

Não é todo dia que atiram uma criança pela janela. Mas todo dia, nasce gente e morre gente. A notícia perde efeito quando sua UTILIDADE PÚBLICA pára de informar.

INFORMAÇÃO É O QUE PRODUZ DIFERENÇA. As páginas policiais não ajudam a audiência a refletir por um mundo melhor. Portanto, deixam de ser informação.

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ATUALIZADO EM 12/04/2008 (11:25h):

O AZENHA e o EDUARDO GUIMARÃES também manifestaram-se a respeito do assunto. Embora possa surgir mais algum blogueiro, jornalista, sociólogo, psicólogo ou jurista consciente e alheio à artimanha do PIG e ao conseqüente emburrecimento misturado com sadomasoquismo por parte do grosso da audiência que, otária, compra esses produtos midiáticos de quinta categoria, acho que vou me recolher a discutir o tema somente através dos comentários.

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Por heliopaz

@heliopaz | cultura de fã de futebol online/offline | Educação = cultura + ato político

5 respostas em “CASO ISABELLA”

Me perguntam sobre este caso no trabalho, sempre respondo – Não estou acompanhando, é estatisticamente irrelevante. Vc tem uma inflação de alimentos com potencial para matar milhões, uma epidemia de dengue capaz de matar milhares e uma menina morta. A cobertura dada é inversamente proporcional a quantidade de vítimas. Uma vai ocorrer, uma está, a outra já foi, não deveríamos focar no que pode ser evitado?

Agradeço pela visita e repito o comentário que fiz por lá, carne afetar a fertilidade parece bem contundente, mas só se aplica a mulheres grávidas. Claro que ele também cita a incidência de doenças coronárias na fronteira gaúcha. Tem algum outro post para recomendar?

Hélio: em primeiro lugar, valeu pela citação!
Em segundo lugar, teu texto também está ótimo. A cobertura midiática desse caso realmente não informa nada, só repete baboseiras e acrescenta outras. Chega a ser irritante, pois tem tanta coisa mais importante acontecendo – enchentes no Nordeste, seca no Sul, dengue no Rio – e o destaque é para a morte de uma criança, como se tal fato fosse raro (como seria bom se fosse!): mas como ela era branca e de classe média…
No início da noite de hoje, na casa da minha avó eu conversava com o meu pai sobre mídia alternativa e a reunião de ontem (à qual infelizmente não pude estar presente), comentei que tinha escrito sobre o “caso Isabella” e que o post tinha sido citado aqui no PALANQUE, e pronto: alguém ouviu “Isabella” e começaram as teorias sobre quem seria o culpado, as opiniões sobre a soltura do pai e da madrasta… Como disse o Kayser em genial charge na época do acidente da TAM, “Bons tempos em que os palpiteiros só precisavam se preocupar com futebol”.

Abraços,
Rodrigo

Fala, Rodrigo!

Conheci teu pai lá na reunião e, assim que passar a loucura do texto da minha banca de qualificação, gostaria de conversar com vocês sobre como se deu a necessidade e o interesse da mobilização pela Gonçalo de Carvalho.

Eu estou procurando por um ou vários objetos de pesquisa na blogosfera que contenham elementos comuns em termos de ativismo político apartidário a favor de uma determinada causa. Isso é para um artigo ou, então, para começar um embrião para a seleção para o doutorado.

Não sei se tu já ouviste falar sobre o livro MULTIDÃO, de Antonio Negri e Michael Hardt. Nele, eles discorrem longamente sobre uma grande quantidade de estudos de caso daquilo que eles chamam de RESISTÊNCIA PÓS-MODERNA.

Em poucas linhas, seriam movimentos originados na blogosfera porque não há espaço na mídia hegemônica, cujo objetivo é revelar um lado da história que ninguém conhece, documentar histórias e ações institucionais.

Por exemplo: uma visita cordial a quem está prejudicando ou a alguém que possa ajudar em uma causa; denúncias, reivindicações, clipping da mídia sobre o caso; medidas tomadas junto ao executivo e ao judiciário; ações participativas como o abraço a um monumento, panfletagem, lista de e-mail, expansão do próprio blog através de links, citações e comentários, reconhecimento desse trabalho pela mídia corporativa até a sua solução e possíveis desdobramentos, como, por exemplo, um movimento ativista com base na blogosfera servir de inspiração e trocar idéias de como proceder para ter suas demandas satisfeitas com outros ciberativistas onde cada um tem uma causa diferente para defender ou atacar.

Mudando de saco pra mala, se a mídia corporativa tem o direito de não fazer jornalismo e de publicar hipóteses prontas a partir do “aquário” da redação, eu também posso: escrevi no APITO DO BLACKÃO sobre uma hipótese a respeito da aclamação e posterior estigmatização de Obino e Preis e como deve ter-se dado a escolha de Odone para disputar a presidência.

[]’s,
Hélio

Hélio:
Já sabia dos livros pelas referências que fizeste a eles em postagens anteriores. Descobri que eles estão disponíveis na biblioteca da Psicologia da UFRGS, quero ver se passo lá e pego.
Quando passar a tua correria da banca, vamos marcar um papo sobre a Gonçalo e outros assuntos – até futebol – com o meu pai junto (que é colorado). E podemos também marcar um jogo de botão!

Abraços
Rodrigo

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