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POR QUE AS GURIAS GREMISTAS MERECEM TODO O MEU CARINHO DE TORCEDOR E OS GURIS NÃO MERECEM MAIS TANTO ASSIM

Sabem aquele dito popular que, às vezes, pode ser confirmado na prática, mas também pode ser visto como preconceito ou como falácia?

CALMA! Não tem nada de piada machista nem misógina aqui: é apenas uma questão relacionada aos corredores, às salas e à política interna dos clubes de futebol essencialmente masculinos.

Quem conhece um clube por dentro, muitas vezes pode ter aquela impressão de quando visita a cozinha de um restaurante de culinária supostamente chinesa no Brasil (dirigido por chineses e seus descendentes… Ou não): ou quem entra e vê como se faz a comida e como se lida com a higienização dos alimentos permanece apaixonado porque acha que tem o corpo fechado, ou não pisa mais na soleira de um restaurante com essas características.

Há, sim, muita gente profissional e séria nas áreas de apoio. Mas a forma de se fazer política, de sócio para sócio, muitas vezes deixa a desejar. Até podemos dizer que, no Grêmio, houve uma elevação do nível e uma redução das intrigas que ocorriam antigamente.

Mesmo assim, o modus operandi de uma sociedade essencialmente machista (que, consequentemente, também é elitista, branca, machista, misógina, transfóbica, contra políticas e pensamentos sociais de esquerda e consideravelmente fascista), infelizmente, permeia o mundo ocidental acima de tudo (não que no Oriente Médio, no Extremo Oriente, no subcontinente indiano ou em diversos governos e etnias espalhados pela América Latina, pela África, pela Europa e pela Oceania também não o sejam).

No futebol, não seria diferente: afinal de contas, no Brasil, essa lógica ocorre desde a origem dos clubes esportivos e sociais (muitas vezes, as duas coisas ao mesmo tempo).

Voltemos ao Grêmio: na questão mais sensível do momento, só agora o nosso clube passa a disponibilizar dedicação e recursos (tanto financeiros como tecnológicos) para as Gurias Gremistas.

Se fazer futebol e se entrar no meio para tentar mudar de vida e proporcionar à sua família e a seus melhores amigos um conjunto maior de oportunidades é sempre dificílimo para os homens, imaginemos então para as mulheres, vistas como “sapatão”, tendo que levar botinadas dos meninos nas “peladas” e recebendo muito menos chances em uma quantidade muito menor de clubes que disponibilizam a modalidade nos níveis competitivo e profissional.

Hoje em dia, o futebol feminino tem sido tolerado, pois a Conmebol obriga os clubes que disputam suas competições no masculino (Libertadores e Sul-Americana) a também possuir times femininos.

Assim, vemos que muitos clubes apresentam um time feminino em uma temporada, mas investem muito pouco – tanto é que não se importam em pôr as mulheres para treinar em gramados ruins, em vestiários sem conforto, a viajar sem os mesmos privilégios de seus times masculinos em termos de transporte, hospedagem e traslado.

Enquanto isso, os times masculinos contratam vários jogadores com sete dígitos de salários, repletos de exigências fúteis e sem dedicar o melhor de si a uma torcida que, caso eles queiram e possam render bastante, irá adorá-los talvez eternamente. Infelizmente, muitos não pensam nessa perspectiva que, caso acontecesse comigo, seria muito gratificante, prazerosa e garantiria um legado à minha carreira.

Hoje, as Gurias Gremistas fazem muito mais do que os “guris”: com muito menos recursos, elas nem sempre conseguem ir longe no Brasileirão e ainda não disputaram nenhuma Libertadores. Mas a garra e a vontade de evoluir é, nelas, muito mais nítida do que com a maioria dos homens. Elas são gratas e reconhecem os torcedores que buscam um contato, seja na arquibancada, seja nas suas redes sociais.

Existe uma proximidade, um respeito e um reconhecimento por parte das e dos fãs do futebol feminino: uma modalidade de pouca agressividade, de poucos palavrões, sem ameaças de morte, quase sem brigas, cujas torcidas mais assíduas não repetem o erro de se comportar muitas vezes de forma fascista. Temos mulheres, crianças, idosos e famílias completas. Não há uma cobrança agressiva quando o resultado não vem.

Ter paciência e respeitar o trabalho das mulheres faz um bem danado: seria maravilhoso que cada vez mais gremistas conhecessem as Gurias Gremistas e passassem a rever a sua forma de torcer, que é influenciada por muitas décadas de um comportamento que transforma o que deveria ser um momento alegre de lazer em um momento de absurda tensão.

Se houvesse uma modalidade de associação ao Grêmio que cobrasse a metade do que eu pago exclusiva para acompanhar as várias categorias do futebol feminino, sediando os jogos das Gurias Gremistas na Arena do Grêmio ou em um estádio menor do clube próximo à Arena (ou, quem sabe, no mesmo lugar onde ficava o saudoso Estádio Olímpico Monumental), desde que todo esse valor fosse exclusivamente para a infraestrutura e para os salários delas, eu largaria o masculino sem trauma nenhum.

Então, pessoal, sugiro que vocês passem a acompanhar os grandes clubes do Brasil no Brasileirão Feminino, na Copa do Brasil Feminina e na Libertadores Feminina, além da Seleção Feminina (Sul-Americano, eliminatórias e Copas do Mundo), transmitidos pelo Sportv e pelo site do GE.com. Também há as ligas italiana e inglesa, além da Euro e das eliminatórias femininas para a Copa do Mundo na ESPN.

Se puderem, vão aos estádios. E JAMAIS deixem de incentivar suas filhas, afilhadas, sobrinhas, netas e filhas de amigos, caso elas sejam tão (ou muito mais, como se vê em uma infinidade de situações) apaixonadas pelo futebol quanto os meninos.

Por heliopaz

@heliopaz | cultura de fã de futebol online/offline | Educação = cultura + ato político

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